Senta lá, Cláudia ou Banner Blindness

Go Banana, UX!
2 min readNov 18, 2021

No clássico Don’t Make me Think, de Steve Krug, uma das premissas colocadas quando se está editando uma página da web, é assumir que tudo é “barulho visual” (visual noise) e que tudo não pode ser importante. O autor categoriza o barulho em 3 tipos: gritaria (shouting), desorganização (disorganization) e tumulto (clutter). Vou me ater à desenvolver um pouco sobre o efeito “gritaria” em associação às inúmeras propagandas que usualmente compõem uma página e gritam, sem pedir licença: COMPRE!

Você entra em uma página de jornal online em busca da atualização sobre dados da Covid- 19 no seu país. Eis que pula na sua tela uma propaganda gigantesca sobre… você nem sabe qual o assunto porque a primeira reação é procurar o botão de fechar aquilo que está atrapalhando a sua leitura. É o famoso “senta lá, Cláudia”, ou, ignorar sem qualquer cerimônia.

No marketing digital é o banner blindness”, ou “cegueira de banner”, quando o sujeito fecha conscientemente ou não aquilo que não é o foco da sua atenção.

Mas, se os próprios profissionais já perceberam que esse caminho mais chateia do que vende, por que ainda existe esse tipo de propaganda? Na evolução dos anúncios digitais já vemos há algum tempo novas estratégias. Na web, a coerência entre produto e público tem ganhado mais relevância (já não era sem tempo) e outras formas de propaganda como utilização de 3D, opções de joguinhos em meio ao anúncio, vídeos mais envolventes parecem ganhar um pouco mais a simpatia do consumidor.

Os anúncios têm uma relevância negativa tão grande que às vezes parecem até chantagem. É o caso do Spotify e YouTube. Seja assinante e livre-se dos anúncios no meio da sua programação. Ainda, podem ter uma faceta que parece até assombração: quando você despretensiosamente conversa sobre sua preocupação com a queda de cabelo e, alguns minutos depois aparece uma propaganda no seu Instagram sobre uma shampoo maravilhoso anti quedas. Faça o teste agora. Fale em voz alta que gostaria de passar o natal em Paris. Me conte depois…

Ainda, quando nem parecem propaganda: sua influencer favorita posta fotos comendo um hamburger X e mostra genuinamente que adorou. É muito provável que você vá em busca daquele produto. Ou, mesmo que seja uma propaganda explícita, aquele produto vai tão ao encontro das suas preferências e em geral você se sente tão representada por aquela personalidade que facilmente o produto também te conquista. Alvo certo, público certo.

Esse, sem qualquer surpresa, é o caminho. Ter o cliente, consumidor, como centro de toda a concepção do produto até a sua divulgação. Considerar quais são os canais preferidos, a forma e tom da conversa, o momento certo, quem o representa. Um óbvio, mas evidentemente ignorado toda vez que me deparo com um anúncio gigantesco sobre… sei lá.

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